"O que se passa com os rapazes?"

17-06-2010 23:57

 

            "'Para mim a escola é... passar o mais rapidamente de ano. Para me ver livre dela.' O miúdo acaba de escrever a frase no quadro, pousa o giz e olha para a objectiva. A pose é claramente provocadora. Guilherme, 14 anos, aluno do 7º ano, nem hesitou na resposta, quando se lhe perguntou o que era a escola para ele. 'Eu quero é ser futebolista', ainda diria, acrescentando que treina muito, em Carcavelos, e até joga bem." (Revista Visão, 10.06.2010, p. 92, Teresa Campos)

            Sou professor desde o ano de 1979/1980, já lá vão pelo menos trinta anos. Fiz a profissionalização no ano lectivo de 1993/1994 e no ano 1995/1996 fui convidado como formador pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (hoje Instituto de Educação), o que continuou até ao presente ano lectivo de 2009/2010. A postura dos alunos perante o conhecimento e a escola tem-me ocupado muitas horas de reflexão e, acima de tudo, muitas mais horas de trabalho diário, de dedicação, de empenho, de incentivo, de reforço, de teimosa persistência e de renovada determinação em não baixar os braços.

            A verdade é que o panorama não é nada animador. Existe certamente um número muito significativo de razões que provocam a desmotivação, o desinteresse, a apatia, o abandono de muitos alunos face à escola, ao conhecimento, à vida.

            Pessoalmente acredito que nenhum esforço é em vão. Os resultados podem não ser vistos de imediato, a curto prazo, mas podem surgir, despontar, desabrochar, explodir a qualquer momento em função de um qualquer "clique" que desperte por dentro o mais desmotivado. Vou continuar a pensar assim.

            Mas no fundo tenho para mim que a escola e os professores, com todas as suas insuficiências e imperfeições travam uma luta desigual contra a cultura vigente, os meios de comunicação (em particular a televisão e a internet), e a ausência e o desinteresse da família.

            O hedonismo está a infestar esta geração e as consequências a médio e longo prazo parecem-me desastrosas, se não houver uma inversão de atitudes. Infelizmente esta mentalidade penetrou nos próprios arraiais cristãos e evangélicos que deveriam pugnar pela excelência, pela reflexão, pelo estudo, valorizando o trabalho e o esforço abnegado em favor da comunidade. Precisamos voltar a ler com atenção, entre outros, o livro de Provérbios da Bíblia Sagrada.