EXODUS: deuses e reis

02-01-2015 12:36

Um filme triste pela deturpação flagrante do relato bíblico. Quem quer saber a verdade acerca desta epopeia de libertação levada a cabo pelo Senhor dos Exércitos que liberta o Seu povo de Israel com mão forte e poderosa da tirania do Egito, e das suas divindades que não passavam de meros ídolos criados pelo orgulho e obstinação dos homens; deve abrir a Bíblia Sagrada, em vez de se perder em ilusões e devaneios em nome da liberdade da criação que põe em causa a narrativa histórica bíblica. Tudo isto no pressuposto e na intenção de atribuir a este mesmo relato o valor de mito inventado no caldo dos medos e dos desejos.
 À primeira vista até pode dar a impressão de que este interesse cinematográfico pode suscitar oportunidades para abordar a Palavra de Deus e o relato da libertação da escravidão no Egito que lança uma luz simbólica sobre a libertação que Jesus Cristo, o Grande Libertador, veio realizar mediante a Sua morte e ressurreição. Mas, embora não descarte esta hipótese, parece-me remota e o que fica para mim mais saliente é a avalanche do ceticismo e do atrevimento irreverente de alterar gratuitamente o que a Bíblia nos transmite, como se cada um tivesse a liberdade de fazer o que muito bem lhe apetece com o que a História regista. Tudo isto porque, para lá deste vento que sopra na criação literária em geral e na história em particular, algumas pessoas que dispõem destes meios não têm nenhuma consideração pelo texto bíblico como Palavra de Deus e estão intencionalmente votados a disseminar esta mentalidade incrédula, senão mesmo blasfema.
 Desta forma no filme em questão o cajado de Moisés é substituído pela espada, a pessoa de Deus que lhe revela a intenção de libertar o Seu povo do Egito e o convoca para tal missão, que no texto bíblico nunca toma uma forma visível, é assumido por um menino rebelde e vingativo; a chamada de Moisés é acompanhada por um avalanche de lama e pedras quando ele se atreve a escalar uma montanha tida por sagrada, no encalce de algumas ovelhas tresmalhadas. A sua intenção de cumprir a convocação divina é atribuída a uma pedrada que acaba por sofrer na cabeça, é submergido num lamaçal e parte uma perna. Chegado ao Egito Moisés dedica-se a preparar um exército de libertação, ensinando aos seus irmãos hebreus as artes da guerra no manuseio das espadas e dos arcos, com algumas emboscadas em que a frota egípcia é destruída e alguns ataques são perpetrados contra os egípcios, à maneira dos grupos de libertação dos nossos dias. É então que o menino que faz de Deus perde a paciência e acaba por infligir de uma assentada as várias pragas que terminam com o que o guionista designa de matança dos inocentes, o que provoca a indignação do próprio Moisés e que a pretensa figura divina justifica em face dos quatrocentos anos de escravatura e de todas as sevícias praticadas contra o povo hebreu. Uma total afronta e deturpação do que no texto bíblico encontramos. A beleza do relato bíblico é transformada numa narrativa lúgubre e doentia.
 A morte dos primogénitos no Egito sempre foi um assunto controverso, mas ela só acontece devido à obstinação do faraó, dos seus conselheiros e do seu povo, bem como à indiferença para com o antídoto que Deus disponibilizou e que se os próprios hebreus não tomassem em consideração sofreriam do mesmo modo. Essa morte será experimentada pelo próprio Filho de Deus, passadas algumas centenas de anos, para que todos nós, sem exceção, pudéssemos ter acesso à vida eterna. "O Filho do homem não veio para ser servido para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." (Mateus 20:28)
 A travessia do Mar Vermelho é provocada por uma maré acentuadamente vaza, e o retorno das águas a uma vaga tipo tsunami acompanhada de alguns furacões, a que o faraó consegue escapar. A pessoa de Moisés é uma figura atormentada, sem a confiança que acompanha a fé dos homens que conhecem a Deus. É Moisés quem esculpe as tábuas da lei sob a supervisão da criança, que logo mais acaba por desaparecer entre a multidão dos hebreus que se dirigem à terra prometida.
 É lamentável e terrível que se troquem as cisternas de águas límpidas e transparentes, refrescantes e revigoradoras da Palavra de Deus que instilam fé, esperança, coragem e determinação, por poças de lama conspurcadas de uma pseudo-criatividade carente da libertação que os hebreus experimentaram e que em Jesus está hoje espiritualmente disponível para todos os homens e mulheres a caminho da eternidade. Como cristãos, não temos que esperar que sejam os que não reconhecem a Bíblia como a Palavra de Deus e não têm a experiência do novo nascimento, a proclamarem a verdade libertadora que ela encerra. É a nós que tal nos compete. É esse o nosso privilégio apoiando, por exemplo, os meios de comunicação social evangélicos, como é o caso desta revista de Novas de Alegria. Assim seja!

SRP