Evangélicos zangados com pergunta do questionário

27-03-2011 21:15

  "Facto consumado"

 

            A Aliança Evangélica Portuguesa (AEP), que reúne pelo menos 200 mil cristãos de diferentes igrejas e comunidades, está zangada com o Instituto Nacional de Estatística (INE) por causa da pergunta dos Censos relativa à religião. Apesar de ser de resposta facultativa, a pergunta só prevê as posições religiosas católica/protestante/ortodoxa/outra cristã, no que às confissões cristãs diz respeito.

            "Fomos colocados perante um facto consumado", diz ao PÚBLICO Samuel Pinheiro, secretário executivo da AEP. Por isso, a instituição está agora informar pastores e líderes evangélicos no sentido de os membros das diferentes comunidades preencherem a opção "protestante".

            "É a opção mais fiável e com mais correspondência em relação ao que somos", explica Pinheiro. O protestantismo, separado de Roma desde o século XVI com a Reforma de Lutero, deu depois origem a igrejas e movimentos cada vez mais autónomos, que passaram a ser designados como "evangélicos".

            Há cerca de dois anos, o assessor jurídico da AEP, Fernando Soares Loja, falou com um responsável do INE no sentido de prever a opção "evangélico". "Respondeu-me que custaria muito dinheiro fazer a alteração e que as opções referidas vêm de trás. Contrapus que elas já não reflectem a realidade", diz Soares Loja. E nos Censos de 2001 "muitos evangélicos identificaram-se na posição 'outra cristã'", acrescenta, por causa da inexistência de "evangélico".

            De facto, os dados de 2001 - sempre salvaguardando o carácter facultativo da resposta - apontam para 48.301 protestantes e 122.745 com confissão "outra cristã" (além de 17.443 ortodoxos). O que significa que a maior parte dos evangélicos - bem mais que os protestantes - se terá identificado com a definição "outra cristã".

            Contactado pelo PÚBLICO, o serviço de imprensa do INE respondeu que as modalidades da pergunta "foram amplamente discutidas na Secção do Conselho Superior de Estatística, tendo sido decidido que esta pergunta deveria ter as mesmas modalidades de resposta que teve nos censos anteriores, garantindo assim a comparabilidade intercensitária".

            Samuel Pinheiro contrapõe: "Revemo-nos no protestantismo, mas essa categoria está culturalmente ultrapassada e a sociologia também já fala em evangélicos". (Público, 24 de Março 2011, p. 14, António Marujo)