BIRD MAN

27-03-2015 17:44

                O que tenho de fazer, o que posso fazer, o que hei-de fazer para ser amado? Já não
lembro bem mas esta foi a pergunta que me ficou a retinir nos ouvidos, na
cabeça e no coração por parte do personagem que parece tentar suicidar-se sem
conseguir o seu intento em pleno palco no fim de mais uma representação em que
no fim se percebe traído pela pessoa que ama. Julgo que esta é a pergunta que
todos nós mais cedo ou mais tarde fazemos, com ou sem traição amorosa e
conjugal, romântica e da paixão do arrebatamento dos sentidos. Todos nós
nascemos com uma fome de amor que nem sempre conseguimos satisfazer, e que em
última instância só pode ser realizada em Deus, no Seu amor puro e santo,
absoluto e incondicional. Uma fome e sede existenciais, espirituais, emocionais
e que superam as razões da cabeça e se aprofundam nas inquietações do coração. Uma
fome e sede que a promiscuidade sexual e as paixões transitórias não
satisfazem.

                Todo o filme tem o não sei muito bem o quê de inquietante e de perturbador que passa
pelos sons e pelos ruídos do tambor da bateria que toca nos bastidores do
teatro, nos corredores apertados e povoados de sombras desses mesmo bastidores
como se da própria vida. Nos encontros e desencontros. Na rapariga sentada no
parapeito do terraço do prédio nas ruas agitadas da Broadway de Nova Iorque. No
jogo da verdade e da consequência, em que se prefere a primeira sem a segunda
fugindo de algum modo às implicações da verdade que naquele caso deverão ser
mesmo recusadas, porque se trata de uma verdade cuja consequência traz no seu
ventre a mentira.

                No fim fica-se entre a realidade e a ficção, entre a realidade e a ilusão, o
simbolismo... tudo não será um sonho, uma não existência como declara também o
personagem na boca de cena... eu não existo! As asas do homem pássaro não são
suficientes para fazê-lo voar para lá das gaiolas e prisões dos seus medos, dos
seus fantasmas, das suas sombras, das suas frustrações.

                Fica também a importância do que é mais importante... as pessoas e especialmente os
filhos que não podem ser trocados pela fama efémera do espetáculo ou de
qualquer outra tentação. O tempo passa e não é possível recuperar o tempo que
se perdeu e os afetos que se poderiam ter vivido... ainda assim a relação pai
filha transparece algum encanto...

                Só o amor nos realiza como pessoas!...

Samuel R. Pinheiro