O CÉU EXISTE MESMO!
Nada de novo no título para quem conhece a Bíblia, e esta é uma das surpreendentes, ou talvez não, denúncias do filme. Numa igreja evangélica e porventura em muitas outras, bem como numa cultura que se tem como cristã, há muitas pessoas que não acreditam no céu, não o levam a sério, e podem ser incluídas no grupo a que um autor designou de "cristãos ateus". O tema do céu causa celeuma e o pastor acaba por ter de enfrentar oposição ao ponto de ser colocado perante a sua possível substituição.
A surpresa não é assim tanta porque a comunidade que é apresentada não parece centrada na Bíblia, ou seja o púlpito não é marcado por um ensino sistemático do texto bíblico, a Palavra de Deus é uma presença ausente, uma referência rarefeita, não se dá por ela. As pessoas seguem as suas intuições, o seu coração, os seus sentidos e sentimentos - muito longe do exemplo dos crentes de Bereia que como o livro de Atos no Novo Testamento, todos os dias verificavam se o que ouviam da parte do apóstolo Paulo conferia com as Escrituras, e por isso são considerados mais nobres dos que os de Tessalónica (Atos 17).
Claro que quem conhece a Bíblia sabe que não apenas o céu existe, o inferno também; e que o mais importante não é apenas a realidade do céu mas o único meio através do qual lá podemos chegar. Ou seja, pela clara exposição do evangelho, todos nós estamos condenados em virtude dos nossos pecados. Mas em última instância não serão os nossos pecados que nos remeterão para uma separação eterna de Deus, mas, isso sim, a nossa atitude para com o que Jesus Cristo fez a propósito (João 3). Jesus veio para resolver o nosso problema do pecado, para suportar sobre Si todas as consequência do mesmo, e através da Sua morte e ressurreição garantir-nos perdão, reconciliação, transformação, uma nova identidade, a filiação divina, e a certeza absoluta de estarmos com Deus para todo o sempre nas moradas que nos foi preparar. O céu é uma dádiva que se recebe por em arrependimento e conversão (Efésios 2). A pior ofensa que se pode infligir ao pecado é o reconhecimento do mesmo, e o reconhecimento da necessidade de um Salvador. O pecado quer prevalecer, quer afirmar-se, em última instância quer conseguir alcançar o céu mediante méritos e virtudes inexistentes. O pecado é mentira e morte.
O filme segue de uma forma mais ou menos subtil pelo universalismo que hoje aparece na crista da onda de uma sociedade que descarta a ética e a moralidade, que nega ou subvaloriza o pecado, materialista e hedonista, relativista e pluralista. O universalismo, ou seja a ideia de que no fim todos estarão no céu, é corolário deste caldo de cultura pós-moderna. A produção cinematográfica acaba por dar ênfase à fisionomia de Jesus através de pinturas de uma outra personagem que ao passar pela mesma experiência retrata na tela o que viu, e que o rapazinho, filho do pastor, confirma. Esta descrição do Filho de Deus em glória não corresponde ao relato bíblico que nos é apresentado no livro do Apocalipse. Na linha dos livros "a Cabana" e "A Travessia" e porventura de outros, é "demasiado" humano, ou apenas humano. Depois da morte e ressurreição a glória com que aparece ao seu discípulo João, faz com que ele caia como morto.
O filme pode ser o ponto de partida de uma conversa interessante sobre a realidade presente e eterna, sobre a existência de Deus, a nossa identidade, o que o pecado provocou e ainda hoje provoca, e o que trouxe Jesus à terra. O que importa sempre ressaltar do ponto de vista bíblico é que sem Deus o homem está perdido e condenado, e que só através de Jesus Cristo pode ser salvo e ter a certeza de vida eterna e de uma eternidade na presença do seu Criador. O resto é mentira, é engano, é publicidade enganosa.
Uma coisa é certa, numa sociedade em que o ateísmo militante irrompe e cresce, numa sociedade naturalista esvaziada de Deus, na propalação de uma ciência inimiga e incompatível com um Deus pessoal, numa sociedade hedonista para a qual o pecado é um bicho-papão" para atemorizar as pessoas, numa sociedade relativista em que o certo e errado estão dependentes da semântica e do "achismo" individual, numa sociedade pluralista, a eternidade, a dimensão espiritual, o sentido e o propósito da vida, a razão pela qual estou aqui, quem sou e para onde vou, estão aí com toda a força. A nós compete apresentar a Bíblia, a Palavra de Deus, a pessoa de Jesus Cristo segundo a narrativa dos evangelhos, a cosmovisão cristã, a graça divina, o poder de Deus para salvação de todo o que crê, a fé que nos leva a viver o sobrenatural no natural, o amor incondicional de Deus que a todos estende a salvação que Jesus consumou na cruz, a graça como favor não merecido que permite a todos viver a vida eterna e ter a certeza de estar com Ele para todo o sempre.