"NOÉ"

01-05-2014 15:39

                O filme aproveita-se de um tema bíblico que
sempre tem provocado o interesse e a especulação humana, e suscitado polémica
por parte de autores tanto crentes como ateus e agnósticos. Para nós a questão
essencial que este filme levanta negando a base bíblica, tem a ver com a
natureza de Deus, o Seu modo de revelação e comunicação com os protagonistas
humanos, e a própria natureza e motivação destes.

                Apesar de sabermos à partida que
o filme não é uma apologia da narrativa bíblica, tal não dá ao autor e muito
menos a nós como comentadores, a possibilidade de aceitarmos e engolirmos a
forma como ele distorce, nega, compromete e conspurca o relato bíblico.

                A decisão de Deus destruir a
humanidade deve-se à maldade que se multiplicou de modo dificilmente para nós
perceptível ao ponto do texto bíblico referir que se arrependeu de ter criado o
homem. De facto Deus não criou o homem para esse estado calamitoso, trágico,
"infernal", medonho. O facto de Deus ter decidido enviar o dilúvio foi
precisamente para que tal não sucedesse e através de Noé a raça humana fosse
preservada e a promessa de salvação viesse a concretizar-se, como desde a Queda
Deus tinha prometido e declarado em conformidade com uma determinação anterior
à própria criação. A preservação de Noé e da sua família é uma ato resultante
da graça divina, acompanhada da integridade que este demonstra em meio a uma
geração corrompida e diante de Deus. A construção da arca foi um testemunho
público para confrontar os homens de então com o seu pecado e levá-los a mudar
de atitude em arrependimento e conversão. A ideia de que uma potencial esposa
de um dos filhos de Noé fosse impedida de ter acesso à arca, é contrária ao
relato bíblico.

                A impressão de que a revelação e
ordem divina é percecionada por Noé de um modo vago, impreciso, mais subjetivo
que objetivo, intuído por sonhos e pesadelos, partes mais escuras do que
claras, não assenta no que perpassa por toda a Bíblia e no que ela mesma
representa. É uma ideia que os ateus gostam de brandir, inventando fábulas
tenebrosas para tentar lançar "lama" sobre o que querem apresentar como mitos
ou fábulas bíblicas. Claramente prefiro e escolho a narrativa bíblica, de um
Deus que não se demite da Sua função e ação soberana, amorosa, justa, graciosa
e santa. Um Deus que salva e entrega os renitentes a si próprios não permitindo
que o inferno boicote o plano de salvação que em Jesus Cristo, o Filho de Deus,
há-de cumprir-se na plenitude dos tempos, no momento adequado divinamente
decidido.

                Podem, existir alguns aspectos
que de alguma forma têm pontos de contacto com o que a Bíblia nos dá a
conhecer, mas por si só não anulam o que de deturpação e falsidade contém e que
é nevrálgico. Parafraseando o poeta português António Aleixo, para que a
mentira faça mossa é preciso trazer à mistura alguma coisa de verdade. Foi essa
a estratégia da serpente ao tentar Eva e não mudou de estratégia mesmo a partir
dos poderosos e modernos meios de comunicação de massas no século XXI.