"A TRAVESSIA"

01-05-2014 15:44

                Do mesmo autor do livro que
foi best-seller "A Cabana", como romance colocou-me a questão, talvez pela
primeira vez no contexto evangélico, se existem limites que devem observar-se
na ficção quando se tem em conta a doutrina bíblica que é essencial,
inquestionável e inegociável. A ficção pode ignorar e até contrariar o ensino
escriturístico, a Palavra de Deus? De modo algum! A imaginação e a criatividade
deve deixar-se guiar pela revelação, e dar-lhe visibilidade e eficácia. A Bíblia
é a nossa regra de fé e de comportamento, por isso nem a ficção tem a liberdade
de afrontá-la, de contrariá-la e muito menos de a negar.

                Infelizmente
é isso que no nosso entender acontece nesta obra. O autor assenta o seu
argumento no personagem central que sofre um AVC e que sendo beijado por uma
criança com síndroma de Down acaba por "incorporar", ocupar a mente,
exprimir-se falando de forma audível para o "possuído" e para os presentes. Daí
e através da mesma forma "passa" para uma senhora que frequenta uma igreja
local e acaba por provocar uma perturbação durante o culto, que é
posteriormente visitada pelo Pastor que invoca o texto bíblico de que as
mulheres devem permanecer em silêncio, o que no nosso entender nada tem a ver
com o que está em causa. Neste "estado intermédio" como o autor designa e que é
estranho e contrário à doutrina bíblica, o personagem em estado de coma passa
por várias experiências que não se coadunam com o ensino bíblico. O único modo
de reconciliação com Deus é através da cruz de Jesus Cristo, em arrependimento
e conversão. Existem outros aspectos que podem ser questionados nesta obra mas
este parece-nos um dos mais proeminentes e que por si só coloca esta obra fora
da matriz bíblica. Outros dos aspectos recorrentes em relação à obra anterior,
embora reforçado, é a que apresenta as pessoas divinas do Pai, do Filho e do
Espírito Santo em representações humanas. Outro aspeto que me tem feito
reconsiderar este atrevimento provocador é que o texto bíblico revela-nos a
glória de Deus, mesmo quando ela está para lá do que os nossos referenciais
humanos conseguem alcançar e por isso servindo-se de uma simbologia
contundente. Veja-se o caso de Jesus Cristo no último livro da Bíblia.
Sugerir-nos o Pai como uma menina vestida de azul e verde não é aceitável,
mesmo tendo nós consciência que Deus não tem género nem idade. O Filho fez-se
homem e como tal foi embrião e criança, como Deus sempre foi e será Deus.

                Consideramos
que o instrumento mais adequado para alcançar esta cultura pós-moderna e as
pessoas que estão mergulhadas nela, é a ficção, o romance, as histórias e
narrativas, o testemunho pessoal, as parábolas. Daí que obras que resvalam para
heresias claras tornam-se ainda mais nocivas. Precisamos de romancistas
cristãos comprometidos com o pensamento bíblico e que através das suas obras
possam alcançar esta geração pós-moderna.